Em 2019, 10 meninos morreram em um incêndio por negligência do Flamengo.
Foram mortos 10 jovens. Eram os filhos de 10 famílias. Morreram 10 talentos promissores do esporte nacional. O Ninho do Urubu queimou à morte 10 sonhos, ao menos.
As reações? Pessoas declarando à exaustão seus lutos e indignação virtual em rede social. Chocadas com a tragédia, repercutiam o coração rubro negro dilacerado em suas timelines. Manifestavam solidariedade às familias. E… defendiam o Flamengo.
Em um processo de racionalização insustentavel, imprensa, diretoria do time, jogadores, torcedores (do mais variado espectro sociocultural) não pareciam ter dificuldade em separar o que seria o Flamengo “diretoria” do Flamengo produto vendido nas embalagens time, “nação”, emoção, ídolos, craques, objetos, vestimentas, hinos, fofocas, ideal de consumo etc.
Cumprido o papel social esperado de individuos, grupos e instituições, a imprensa e as redes socias não demoraram a se acalmar. Assim, dez mortes ficaram para trás sem que a tal diretoria tenha sido punida e sem que nenhuma reparação mais profunda e significativa tivesse sido observada.
O esquecimento. Ou talvez, uma memoria sem afeto de uma tragédia espetacular e distante.
Hoje, olhando as imagens de uma Presidente Vargas tomada de rubro negro em festa, é dificil não pensar onde estava toda essa gente pressionando o sistema por uma reparação. Se essa multidão tivesse de fato se indignado e usado essa energia para declarar sua repulsa a uma estrutura que se sustenta da exploração da carência econômica e emocional de seres humanos, será que o evento trágico poderia ter iniciado um processo de redefinição das regras de um jogo perverso que naturaliza a exploração da miséria nas suas mais variadas formas?